quarta-feira, 29 de abril de 2015

A secretária e os processos de seleção

Depoimento muito interessante do site "Tudo sobre secretariado". Vale a leitura e reflexão.




"Já aconteceu comigo, com você e com todo mundo que tenha participado de um processo seletivo. Quem de nós, nunca ficou intrigada por não ter sido escolhida para uma determinada vaga quando éramos consideradas a pessoal ideal para o cargo? Geralmente, o processo todo consiste em testes de conhecimento de língua portuguesa, inglês ou mais um outro idioma (para as bilíngues), redação, testes de informática, uso da internet, bem como testes psicológico e psicotécnico, entrevista com a consultoria e com a selecionadora da empresa. Na etapa seguinte, participávamos de mais entrevistas, nesta ordem: responsável pelo RH, gerente do RH, secretária da área (quando solicitada), executivos em questão, sendo que, muitas vezes, por incompatibilidade de agendas, era necessário retornar várias vezes à empresa para uma entrevista individual com cada um ou então esperar meses até que o processo todo fosse concluído.

Cada vez que enfrentávamos uma etapa da entrevista e éramos bem sucedidas, nos sentíamos vitoriosas. No final de toda aquela avaliação, quando você pensa que a vaga é praticamente sua e que você foi a escolhida, recebe, depois de alguns dias de total silêncio, uma ligação rápida ou um e-mail vago informando que a vaga foi suspensa temporariamente ou que foi cancelada ou ainda que houve um remanejamento interno entre as secretárias e que não haverá mais nenhuma contratação ou, finalmente que, simplesmente o diretor ou outro executivo, recebeu uma indicação de um amigo e escolheu outra pessoa para a função. Detalhe: a informação é dada sem a menor confidencialidade, preocupação ou constrangimento.

O mais incrível é que isso é frequente e que não acontece nessa ou naquela empresa e sim na grande maioria delas. No começo, por ser inexperiente, costumava ligar para a consultora ou a empresa para saber sobre o andamento da vaga, depois, desisti, porque percebia que se não ligaram é porque já estava descartada, embora tenha recebido durante todo o processo, a atenção e gentileza que todo candidato merece. Percebi isso, através das inúmeras conversas que tive com várias secretárias e também por experiência própria. Até acho que foi bom ter esclarecido isso com elas, porque muitas se sentiam diminuídas, envergonhadas e desvalorizadas por achar que isso tinha acontecido somente com elas. Notamos, porém, que isso era uma constante nos processos seletivos e válido para todos os cargos, empresas e consultorias, desde as mais renomadas até as mais desconhecidas.

Pode até não ser um relato politicamente correto, mas, pior do que comentar, é ter de passar por situações humilhantes desse tipo. Fique alerta, porque você também poderá passar por isso um dia e saberá como agir em tal situação sem ficar com baixa auto-estima. Como em toda empresa, existem bons e maus profissionais, e, infelizmente, você poderá se deparar com um funcionário inapto a conduzir um processo seletivo com clareza e eficiência. 

Acredito que seria mais elegante se o RH ocultasse determinado comentário e dissesse que escolheram outra candidata e ponto final. Certamente, aos olhos da Secretária, essa empresa não teria uma avaliação tão negativa. 

Há uns anos atrás, fiz um curso de um ano, onde, quase a maioria dos participantes era da área de RH. Nesse período, fiz amizade com uma selecionadora de uma agência de emprego, e após algum tempo de intimidade, fiz a fatídica pergunta que sempre me atormentava: “Fulana, por que as agências e consultorias de emprego não costumam dar retorno aos candidatos?”.

Ela, na mais completa paz de espírito me disse que trabalhava muito, que seu dia a dia era estressante, cheio de pendências, muitos candidatos para procurar, outros para entrevistar, prazos curtos e que se ela fosse dar retorno diariamente para todos os candidatos descartados, a conta telefônica seria astronômica, o seu telefone ficaria ocupado o dia todo, não poderia receber ligações, e, o pior, não daria a devida atenção ao candidato selecionado e à empresa que a contratou para buscar esse profissional qualificado. Além disso, ela não tinha um auxiliar para enviar e-mails aos candidatos ou auxiliá-la nas tarefas diárias. Fiquei tão atônita com a resposta, tamanha sua sinceridade, que sua explicação até não justificava tal conduta, mas explicava muito bem o motivo de tal descaso.

Em seguida, perguntei: “Desculpe, mas você não acha que isso não é correto com os candidatos? Nosso nível de expectativa, ansiedade e frustação se misturam durante toda a espera. Eu mesma já tive inúmeras experiências negativas, principalmente porque consultorias e empresas prometem que irão ligar, que é para aguardar, que você está no perfil, etc.”.

Novamente ela me respondeu com a sua calma peculiar: “Mas, você gostaria que respondêssemos o quê? Que o candidato é desqualificado para a função, que não tem perfil, que sua aparência não é boa, que existem candidatos melhores que ele e que sua faixa salarial é incompatível com o salário proposto pela empresa? Falamos qualquer coisa para sermos elegantes, gentis e discretos. Afinal, criticar uma pessoa é muito constrangedor e não são todos que aceitam uma crítica construtiva. Também, era comum no meio do processo, a empresa parar com tudo sem também lhe dar uma explicação satisfatória, muitas vezes, contratavam funcionários internos da empresa por meio de alguma indicação ou mudanças nos planos mesmo. Com isso, também ficávamos prejudicados porque perdíamos tempo, dinheiro e não recebíamos nosso pagamento. Muitas vezes, não é só o candidato que se prejudica, nós também passamos por isso. Em se tratando de seleção, nunca se sabe o que pode acontecer”. 

Depois desse depoimento, não quis saber mais nada e já poderia, morrer em paz. Minha dúvida já estava esclarecida.

Certa vez, participei de um processo seletivo e, ao final, soube pela selecionadora e pela psicóloga que me entrevistaram que eu não estava no perfil que a empresa buscava, que o executivo precisava apenas de uma secretária que fizesse a rotina básica do escritório e que não era necessário ter tanta experiência e formação como a minha, até porque o salário oferecido era mais baixo do que eu tinha. Disseram ainda, que pela minha qualificação, poderia ser aproveitada em outra área da empresa para poder utilizar melhor meus conhecimentos.

Saí de lá empolgada, acreditanto realmente que seria chamada para uma outra entrevista em breve conforme me foi garantido. Descartei na época, até outros contatos de entrevista, porque havia gostado muito daquele empresa. Pois é, estou esperando essa ligação até hoje. 

Acreditem se quiser, mas a empresa em questão, era referência para mim no segmento em que atua, multinacional e líder de mercado no Brasil até hoje. Sinceramente, me senti enganada! 

Já em outra oportunidade, participei de um processo, que desde o início, me incomodou, pela forma como todo o processo foi conduzido.

A entrevista foi na própria fábrica onde ficava também o escritório da empresa. Notei que, a fábrica, embora estivesse pintada de branco, mais parecia de cor cinza, tamanho era o desleixo aparente.

Quando cheguei à recepção, a funcionária me avisou que a selecionadora iria demorar um pouco para nos atender. Éramos umas oito secretárias à espera dela. Achei até que seria uma dinâmina em grupo onde todas seríamos avaliadas em conjunto.

Essa demora levou exatamente quarenta minutos em pé, pois não havia cadeira suficiente para todas. Coitadas daquelas que estavam de salto alto. Era uma manhã fria e chuvosa de sábado e toda vez que a porta da recepção se abria, sentíamos aquele vento gelado em nossos rostos. Nossa maquiagem pegou uma carona com o vento e se foi também. Quem mais sentia aquela friagem era a recepcionista, pois ela ficava em frente à porta principal. Ninguém apareceu e nos ofereceu uma cadeira para sentar, uma água, um café ou fizeram qualquer outra gentileza.

Apareceu sim, uma faxineira, que começou a varrer o chão onde estávamos e deu uma varrida também em nossos sapatos, tamanho o aperto onde estávamos amontoadas.

A tal recepcionista não se mostrou nem um pouco atenciosa conosco. Não usava uniforme, estava com uma roupa amassada e velha, o cabelo estava despenteado e mostrava-se bastante irritada com nossa presença, pois também atendia ao telefone e nossa presença a incomodava bastante.

Após a longa espera, a selecionadora apareceu e nos encaminhou a sua sala. Foi incapaz de se desculpar ou explicar o motivo de sua demora, de nos oferecer algo para beber ou nos agradecer pela presença.

Eu me senti muito mal lá; queria pegar minha bolsa e sair correndo, mas procurei manter a classe e fiquei lá somente para marcar presença até porque nem estava mais interessada na vaga diante de tudo que presenciei.

Mas, o pior estava por vir. 

A entrevista foi coletiva, para meu espanto, e durou quase uma hora. A entrevistadora não se mostrou nem um pouco simpática conosco e foi muito exigente na descrição do cargo e rigorosa com as normas da empresa. 

Avisou também às interessadas que a escolhida teria de trabalhar meio período, uma vez por mês, aos sábados, devido à sobrecarga de trabalho. Disse também que preferiu nos chamar naquele sábado para que pudesse reunir todas em um só dia pois sabia que todas nós estávamos trabalhando e assim não haveria problema de ninguém faltar à entrevista ou ter qualquer outra preocupação.

Todas éramos solteiras (na época) e sem filhos, perfil também exigido pela empresa. Ao final, disse, em um tom bastante rude, que, caso alguma de nós não pudesse trabalhar aos sábados, era melhor que desistíssemos logo da vaga para não causar transtornos futuros à empresa. Nesse momento, uma das candidatas se levantou, agradeceu e disse que, por esse motivo, não estava mais interessada na vaga.

Depois de dar outras explicações e tirar algumas dúvidas das candidatas, ela nos acompanhou até a porta e disse que entraria em contato com as canditadas escolhidas para fazer alguns testes e, logo em seguida, haveria a entrevista com o diretor, que seria a etapa final da seleção.

Saí de lá me sentindo enganada e com um sentimento de frustação muito grande. Seria melhor não ter acordado tão cedo e ter ficado descansando em casa naquele sábado frio e chuvoso.

Como disse, trata-se de uma multinacional de grande porte e fabrica até hoje um alimento que eu adorava consumir e o fazia com frequência. Depois desse episódio, nunca mais quis olhar para o tal alimento, muito menos comprar outros produtos vendidos pela marca, pois me dava nojo e me remetia a péssimas recordações. Ainda hoje, tais produtos são considerados de alta qualidade e líderes em seu segmento.

Porém, o inverso também já me aconteceu. Participei, meses depois, de um processo seletivo que, por um detalhe no perfil, não fui a escolhida. Já nutria admiração e respeito por aquela empresa, ainda mais pelas notícias que tomava conhecimento na mídia sobre qualidade, tecnologia, investimento, higiene e respeito ao consumidor. Por coincidência, também era uma empresa alimentícia, consumia seus produtos e, a comparação, com a empresa anterior, foi inevitável. 

Depois da entrevista passei a admirar ainda mais aquela empresa e lamentei muito não poder trabalhar lá. Fui muito bem tratada desde o início até o final do processo seletivo, a começar pelo segurança na entrada do prédio, recepcionista, secretária e selecionadora. Durante o tempo em que aguardei para a entrevista (fui atendida pontualmente), todos que circulavam pela sala, me cumprimentavam com um largo sorriso. Eu até me senti a dona da empresa ou uma visitante ilustre tamanha consideração e respeito que tiveram por mim. Nem parecia uma humilde candidata a uma vaga.

Contei essa história para dizer que, independentemente do cargo a que concorremos em uma empresa, o respeito a qualquer candidato é fundamental.

Hoje, sabe-se que quase 90% das contratações são feitas por meio de indicações qualificadas, que podem ser feitas tanto por pessoas internas como de fora da empresa. É o famoso networking (rede de relacionamentos) tão conhecido e utilizado hoje em dia. Com uma boa referência e recomendação, a empresa, ganha tempo, produtividade, eficiência e se sente mais segura na hora de contratar o futuro funcionário.

Antigamente, eu me lembro bem, recebia uma carta-padrão ou mesmo um telegrama assinados pelo RH da empresa agradecendo minha participação no processo seletivo. Caso a entrevista fosse intermediada por uma consultoria especializada, a própria selecionadora me ligava para me dar um parecer sobre meu desempenho na entrevista.

Hoje em dia, isso é coisa rara. Se você tem a felicidade de receber um retorno sobre sua entrevista, embora não tenha sido a escolhida, sinta-se respeitada e admire ainda mais a empresa ou consultoria em questão e procure recomendá-los aos amigos. 

Alguns profissionais até dizem que fazem o possível para dar uma posição aos candidatos sobre a vaga, porém, devido ao acúmulo de trabalho, quantidade de currículos para avaliar, entrevistas agendadas, pouco tempo disponível e muita pressão no trabalho, torna-se difícil e quase impossível responder a todos que participam das entrevistas.

Espero que as empresas não se esqueçam de que, embora os candidatos estejam lá à procura de emprego, são, também consumidores em potencial e poderão sim comprar ou não os produtos que a empresa fabrica dependendo de como o candidato é tratado e de como a entrevista é conduzida. São essas pessoas que fazem a famosa propaganda boca a boca, agora mais rápida e dinâmica com a era da internet. Tais relatos feitos aos conhecidos e amigos, poderá enaltecer, bem como manchar a imagem da empresa perante seus consumidores.

Se você é Secretária do departamento de recursos humanos e presencia esse tipo de situação, é importante alertá-los das consequências negativas que isso acarretará à imagem de sua empresa perante os candidatos e consumidores.

Portanto, não se esqueçam de que o RH, e não só a área de Marketing e Vendas, tem um papel fundamental na imagem que a empresa transmite aos seus clientes internos e externos. Como sabemos, leva-se muito tempo para se conquistar um cliente, porém, basta um pequeno deslize para perdê-lo.

E, se, ao final do processo, você for a escolhida, verifique se o RH cumpriu com o que lhe prometeu: descrição do cargo e perfil do executivo coerentes com o informado, salário, horário de trabalho, banco de horas ou horas extras, plano de carreira, benefícios, desenvolvimento profissional, cursos de reciclagem, ética dos funcionários e valores da empresa, entre outros aspectos. 

Fique atenta também, caso for participar de um processo interno na empresa onde trabalha, pois, é comum ocorrem injustiças e muitas vezes a seleção não se dá de forma transparente. Portanto, lembre-se: a funcionária escolhida, nem sempre é a mais competente.

Segundo a afirmação de uma pesquisa internacional, o selecionador leva apenas trinta segundos para formar uma opinião sobre o candidato muitas vezes sem que ele precise sequer abrir a boca, embora possa ocorrer graves enganos nessa prática. Acredito então, que o inverso também seja verdadeiro; porém, mais abrangente, porque formamos uma opinião não só sobre o selecionador e sim sobre a empresa em geral."

Um comentário:

  1. Damiana, parabéns, você descreveu muito bem o processo... Já passei muito por isso.... Atualmente estou buscando recolocação na área de Secretária e, embora toda minha experiência, muitas vezes, ficou me sentindo esquecida.... Me candidato as vagas que surgem e, muito raramente, recebo retorno.... Mas vamos lá! Não podemos desistir! Abraços

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